A cúpula do futuro e a armadilha para o Brasil

A cúpula do futuro e a armadilha para o Brasil
16/09/2024 por Editorial

Agenda climática em cúpula da ONU pode ser usada contra o Brasil

Com a proximidade da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Nova York, onde participará da Cúpula do Futuro promovida pela ONU, o Brasil se encontra em uma encruzilhada crítica. Em um cenário de seca severa e recordes de incêndios, o país será pressionado a adotar compromissos internacionais que, embora revestidos de uma retórica de cooperação global, podem, na prática, comprometer a nossa soberania.

Tal cenário foi colocado por Jamil Chade em sua coluna no UOL, “Clima abre confronto geopolítico e cria impasse para Lula em cúpula na ONU”. Em agosto de 2019, o professor de Harvard Stephen Walt escreveu para um artigo provocativo na Foreign Policy onde imaginava, em um futuro próximo (agosto de 2025), onde o presidente dos Estados Unidos dava um ultimato militar contra o desmatamento da Amazônia. O título original era: “Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia?”. No subtítulo: “É só questão de tempo para as grandes potências tentarem parar a mudança climática por quaisquer meios necessários”. 

A Cúpula do Futuro pretende redesenhar os compromissos internacionais, teoricamente  propondo uma nova forma de organizar o sistema internacional com foco em desafios globais como a pobreza, conflitos e mudanças climáticas. No entanto, por trás desses nobres objetivos, esconde-se uma agenda capaz de canalizar projetos de poder que reduzem o Brasil ao papel de mero executor das diretrizes estabelecidas pelas grandes potências e organismos internacionais, sem consideração pelas suas realidades internas e as prioridades de seu desenvolvimento.

O "imperialismo verde" surge como uma ameaça real. O termo refere-se à imposição de políticas ambientais globais que, sob a justificativa de combate às mudanças climáticas, restringem o desenvolvimento econômico de países como o Brasil. Ao ceder à pressão de compromissos climáticos ditados pela ONU e outras entidades internacionais, o Brasil corre o risco de abrir mão de sua autonomia para decidir sobre o uso de seus próprios recursos naturais. As imposições externas em nome da preservação ambiental podem resultar na limitação da capacidade do país de explorar suas riquezas de maneira soberana, impactando diretamente setores como a agropecuária  e a indústria de energia.

Além disso, a pressão para que o Brasil se submeta a compromissos internacionais, sem o devido espaço para negociação e adaptação às suas necessidades, pode levar a um cenário onde o país se torna refém de agendas externas. Esse tipo de ingerência não apenas enfraquece a capacidade do Brasil de definir suas próprias políticas, mas também coloca em risco o desenvolvimento econômico e a segurança energética do país. Ora, é perceptível que se constrói um discurso de emergência climática que grita por medidas excepcionais, e o Brasil se encontra na ponta, no destino dessas medidas excepcionais pensadas para “salvar o mundo da emergência climática”. 

É de se recear que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, seja entusiasta de ideias globalistas, apaixonado pela ideia de que ele é o responsável por inserir o Brasil no “espírito da época”. Aceitar cegamente compromissos internacionais sem uma análise crítica de suas implicações para o nosso país seria um erro estratégico grave. Não basta buscar pequenas concessões táticas, é preciso disputar princípio — as proposições de governança internacional, nos termos atuais, são perigosas para nossa soberania. A defesa do meio ambiente é essencial, mas deve ser conduzida de forma que respeite a autonomia do país e seu direito ao desenvolvimento.

Em um mundo onde a narrativa ambiental é cada vez mais utilizada como ferramenta de pressão geopolítica, o Brasil deve se posicionar de maneira firme contra qualquer intento imperial que ameace sua soberania usando o ambientalismo como pretexto. É crucial que o país adote uma postura proativa, negociando de forma equilibrada e garantindo que suas decisões sejam feitas com base nos interesses de sua população e em seu direito inalienável de crescer e se desenvolver de forma soberana.

O risco de um novo tipo de colonialismo, disfarçado de cooperação climática, não pode ser subestimado. A Cúpula do Futuro da ONU, portanto, deve ser vista não apenas como uma oportunidade para o Brasil contribuir para a agenda global, mas também como um momento para reafirmar sua autonomia e resistir a qualquer tentativa de subjugação disfarçada de responsabilidade ambiental. O futuro do Brasil, e de sua capacidade de traçar seu próprio caminho, dependerá de sua habilidade de navegar essa tempestade e mostrar sua independência, sua força e sua criatividade. 

Por fim, é importante que colunas em portais como o Uol atentem para tal situação problemática, visto que existem grupos organizados através de ONGs que retratam qualquer discurso sobre soberania como chauvinismo e qualquer questionamento desses intentos como uma forma de teoria da conspiração. Os que falam de “conspiracionismo” em uma situação grave como a que vivemos agora são facilitadores do projeto de subjugação do Brasil.

Não faltam apologistas e profetas da emergência dispostos a nos colocar de joelhos. John Watts, editor da militantíssima Sumaúma, há pouco defendeu que é preciso derrotar todos os recalcitrantes e os que recusam uma gestão internacional do clima.  Watts é britânico, mas não faltam brasileiros cujos interesses condizem com a formação de um grande complexo eco-imperialista.

Repetimos o nosso compromisso com a ideia de que um país com tanta riqueza e potencial como o Brasil, não pode relegar o seu povo à pobreza e nem amarrar suas mãos em nome de ditames estrangeiros.

Editorial

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