O futebol vive de esperanças várias. Esse tema pode ser considerado batido, piegas, óbvio ou até genérico, mas acontece que, da mesma forma que nós passamos a vida a comer alimentos com farinha, no futebol a esperança é o alimento de todos os dias.
É sempre bem lembrado que a história dos meninos que sonham nas várzeas e ribeiras é uma história de esperança, assim como a daqueles que abandonam suas casas em troca dos ninhos do futebol profissional. A esperança da glória, da admiração, mas também a esperança de mudar de vida, de ascensão social própria, dos parentes e dos amigos.
E não são só os jovens e os meninos que vivem de esperança. O trabalhador que procura ansioso pelo jogo do seu time em algum canal de televisão e fracassa corre apressado para ligar o rádio. Essa pressa é movida por esperança.
Se a esperança do menino é humilde e a do trabalhador singela, também não faz falta a esperança gananciosa do capitalista que ganha dinheiro com o negócio do futebol.
Nós todos, enquanto torcedores, vivemos a esperança no campeonato do nosso time do coração, vivemos a desesperada esperança de evitar o rebaixamento (conhecido ou não de outras temporadas), mas também vivemos intensamente a esperança do gol, mesmo quando não é a nossa equipe que está jogando. Sem sonhos, sem interesses, sem contar pontos ou troféus, basta que a bola comece a rolar, que nossa mente e nosso coração se enchem de esperança. O futebol é um jogo onde dançam as pequenas e singelas esperanças com as esperanças ambiciosas dos campeões e sonhadores.
A terceira rodada da Copa do Brasil 2024 foi poderosa testemunha do papel das esperanças no futebol.
Quantas esperanças são carregadas por uma Copa do Brasil! Sim, o nosso Eldorado, uma terra repleta de riqueza e onde a sorte pesa mais do que nos pontos corridos. Um lugar onde vivem esperanças, sem dúvida, mas onde elas muitas vezes morrem mortes violentas. Quantas esperanças não foram tragadas por essa feroz e turbulenta cova de náufragos? Quantos não subiram aos céus e desceram para virar escombros? (E que Neruda me perdoe o empréstimo de um poema de amor para falar de futebol)
Na primeira fase, vimos o Sousa da Paraíba brigar com honra contra o “Cruzeiro copeiro”. Um gol brigado no final do segundo tempo parecia ter definido a partida a favor do Sousa e o que parecia aparência se confirmou como uma certeza com um belíssimo gol de fora da área de Danilo Bala (o “DIBALA” brasileiro?).
O maior campeão da Copa do Brasil…. fora da Copa do Brasil, pois as esperanças tranquilas dos cruzeirenses viraram a esperança sonhadora dos torcedores do Sousa.
Quando chegou a hora do Sousa enfrentar o Bragantino, nesta última fase, as esperanças cresceram com um gol marcado em casa, mas elas foram frustradas em Bragança Paulista.
3x0 para o Bragantino e foi selado o destino do clube paraibano: as esperanças ficaram para outros carnavais.
As esperanças também voaram nos céus do Pará. O Águia de Marabá, de forma heroica, enfrentando a torcida são-paulina em Belém, abriu o marcador mesmo estando com um jogador a menos, mas acabou derrotado.
MARABÁ, o Pará além do Remo e do Paysandu. Para além do Pará tivemos a revelação do estado do Amazonas, o Amazonas FC. O Amazonas FC — a Onça — reúne esperanças desde seu nascimento. Muito novo, o clube foi fundado em 2019 e desde então está em ascensão. No ano de seu nascimento, foi campeão da série B do estadual amazonense e, no ano de 2023, foi campeão nacional da série C e campeão da elite estadual. Não foi páreo para o gigante Flamengo na Copa do Brasil: mostrou brio e coragem no Maracanã no jogo da ida, perdendo no placar de 1x0, e mostrou as presas contra o time carioca em Manaus, indo para cima de um Flamengo que jogava na defensiva, cometeu mais faltas, mas que mesmo assim venceu a fera do Amazonas.
Atlético Goianense e Brusque, teoricamente mais equilibrado do que Flamengo x Amazonas ou São Paulo x Águia de Marabá, foi uma guerra: 4x2 para o time de Goiás.
Com dez posições de diferença no ranqueamento nacional da CBF, o Ceará aparecia como favorito no páreo contra o CRB, mas o CRB venceu os dois jogos.
O Fluminense meteu dois no Sampaio Correia, somando 4x0 no placar agregado.
O jogo entre o Corinthians e o América do Rio Grande do Norte também foi um grande choque de esperanças. Os corinthianos, desesperados com a situação de sua equipe, alimentam esperanças na Copa do Brasil (o que para alguns significa arriscar a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro).
O América lutou contra um time que lutava para sobreviver, Wenderson fez um golaço, mas não foi suficiente: Yuri Alberto, se reencontrando com seu papel de centroavante, fez o primeiro do Corinthians e Cacá fez o segundo já nos acréscimos finais da partida.
Entre os desesperados podemos contar os vascaínos, que conquistaram uma vitória sofrida contra o Fortaleza, que era tratado como o favorito e a verdadeira sensação do confronto. O empate em Fortaleza valeu a pena: no Rio, o placar foi 3x3 e a classificação foi decidida nos penais, 5x4 para os vascaínos. O Vasco continua na Copa do Brasil, e os dois grandes do Ceará ficaram de fora.
Em Recife, a torcida apaixonada do Sport gritava com fulgor, vibrando por um gol que obrigasse a equipe do Atlético Mineiro a decidir a parada nos pênaltis. Pura esperança: sem o atacante Hulk os mineiros pareciam enfraquecidos, mas o Sport teve que ficar no quase…. O quase que não existe no futebol, a não ser para as esperanças futuras.
O Vitória, animado com o triunfo no Campeonato Baiano e o acesso à Série A do campeonato brasileiro, foi derrotado pelo Botafogo na sua própria casa.
Por fim, saindo da Copa do Brasil, não podemos nos esquecer da final da Copa Verde, onde o Vila Nova está à espera de um milagre. No primeiro jogo em Belém, o Paysandu massacrou as esperanças realistas com uma goleada de 6x0.
Resta alguma esperança para o Vila Nova?
Veremos hoje a noite.
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Foto: Anderson Cardoso
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